Leituras do Vítor

Dom Casmurro
Autor(es): Machado de Assis
Data de leitura: 15 de out. de 2025
Status data leitura: Finalizada
Avaliação: Gostei 😊
ISBN: 978-8582850350
Páginas: 400
Gêneros:
literatura brasileira
Minha Análise
Seria essa a obra mais famosa de Machado de Assis? Mais que Memórias Póstumas? Talvez. Afinal, mesmo quem nunca leu Dom Casmurro conhece algo sobre a polêmica: Capitu traiu ou não Bentinho? Esse era o meu caso até agora. Finalmente li e, confesso, fiquei decepcionado com todo mundo que sempre falou sobre isso, e com todas as discussões que vi de relance na internet, no Twitter, na TV.
Decepcionado porque essa grande polêmica, a suposta traição de Capitu, claramente não é o tema do livro. Está ali apenas na camada mais superficial. O que realmente move a narrativa é a tentativa de Bentinho, já velho, de se justificar, de “amarrar as pontas soltas”. Ele é um narrador nada confiável, e Machado nos dá várias pistas disso: Bentinho suaviza fatos, dramatiza outros, se contradiz, e tenta nos manipular o tempo todo.
Bentinho é o verdadeiro vilão da história. Não por ser cruel, mas por ser fraco, covarde, incapaz de agir por si mesmo. Sempre foi levado pelos outros: o seminário, o casamento, a viagem. Mimado e inseguro, acabou dominado pela inveja do amigo e pelo ciúme da esposa. E, ironicamente, só a acusa depois da morte do amigo, quando ninguém mais pode se defender.
Quando ele afirma que o filho é “a cara do amigo”, não podemos simplesmente acreditar. Todos que poderiam confirmar ou negar isso já estavam mortos, distantes ou calados. Capitu foi mandada para longe, e morreu exilada, sem nunca poder contar sua versão.
Dom Casmurro é, no fundo, a história de um homem narcisista, corroído pelo ciúme, que destrói tudo e todos ao seu redor e, no fim, tenta convencer o leitor de que é uma vítima.
Confesso que gostei mais de Memórias Póstumas de Brás Cubas: é mais direto, mais leve. Dom Casmurro é superior pelas nuances, pelas camadas e pela genialidade com que Machado faz o leitor desconfiar do narrador. Mas o que o tornou “cult” talvez não seja isso, e sim a dúvida, uma dúvida que, ironicamente, diz mais sobre nós do que sobre Capitu.